No silêncio da noite...
São 4h30 da madrugada.
Ia deitar-me quando passei pelo Canal 2 e vi um filme sobre o tráfico de mulheres de Leste. Não consegui deixar de ver até ao fim. São situações muito cruéis e desumanas; incríveis demais... mas, infelizmente, reais! Já é a segunda noite consecutiva que a RTP2 foca este tema; ontem passou uma reportagem. Fiquei tocada. De certa forma, consigo entender a dor que estas mulheres irão carregar para o resto dos seus dias... porque muito embora possam ser ajudadas e retiradas das teias daqueles indivíduos hediondos, as marcas permanecem para sempre. Os pesadelos, os medos, as lágrimas, a repugna, a vergonha, a tristeza, o sofrimento... ficou dentro de cada uma delas.
[ Parei de escrever por momentos... faltam-me as palavras! Fico estarrecida só de tentar imaginar os momentos que tantas e tantas jovens e mulheres passam à mercê de "Cegos Adoradores Do Dinheiro" ]
Quando aquele homem me tocou e ardilosamente me levou ao seu objectivo... eu tinha sete anos de idade! E ele... é irmão da minha mãe. Sim, meu tio. O mais novo da família, devia ter na altura cerca de 30 anos, solteiro, apreciador de revistas pornográficas, que escondia debaixo do balcão da sua loja. A arrecadação deve ter servido de local para muitos actos de pedófilia, desconfio que colegas de turma por lá passaram, a troco de rebuçados e goluseimas e, quem sabe sob ameaças no caso de contarem a alguém...
Até hoje lembro da famosa expressão que usam alguns homens da sua índole "Se é assim na montra, fará o armazém", referindo-se aos pelitos dos meus braços, escuros e finos, mas visíveis na minha meninice. Eu era mais ingénua que uma criança dos dias actuais com os seus 4 anos. Por mais que nos custe a acreditar, eu vivia neste mundo, mas à parte. Longe das realidades, protegida da informação que talvez tivesse evitado o meu silêncio ou até mesmo o que ele me fez.
Passaram 26 anos... E ainda hoje estou a descobrir mazelas daí provenientes!
Telefonei-lhe a dizer que o perdoava... a 26 de Março de 2006. Mas... apenas tentei enganar a mim mesma. Jamais o conseguirei perdoar. Sozinha, nunca! A minha única esperança é Deus! Sei que o Seu Amor Divino é o único que tem capacidade para sarar esta ferida por cicatrizar há anos... o único que me poderá dar a capacidade de deixar de sentir o que sinto... a repugna, a agonia, a tristeza, a revolta e, infelizmente... o ódio (coisa que nunca senti por mais ninguém, e detesto sentir isso dentro de mim). Esta página continua a assombrar o livro da minha vida, até que... com a ajuda do meu Deus de Amor, eu consiga superar e rasgá-la pela raiz.
Penso muito. Tenho pensado muito ultimamente. Na vida, no porquê das coisas que acontecem, principalmente as más. Procuro resposta e sobretudo conforto para prosseguir, forças para continuar a acreditar e a lutar. E Deus está a ajudar!
[ Momento de silêncio... ]
O sono está, finalmente a vencer.
Amanhã é um novo dia, um novo passo em direcção às vitórias.
Deus faz caminho onde não há. Ele transforma desertos em rios.
Convenceste-me a confiar em Ti, novamente, meu Querido Senhor.
Eu contendi Contigo e não me ficaste indiferente. Respondeste.
Obrigada, Pai. Tu és o meu alto retiro, o meu refúgio, a minha força.
Em Ti descansarei.
5 Comentários:
Como tu te deves estar a sentir.
Como eu gostava que pudesses lembrar que apesar do passado temos, sempre, de levantar a cabeça.
Tens de saber perdoar, mesmo que o teu coração não o queira fazer.
Passaste por situações que não desejo a ninguém.
Se precisares de um amigo, conta comigo.
Até eu fico sem conseguir exprimir por palavras tudo aquilo que te queria dizer.
Fica o meu apoio e um grande e longo abraço que te mando para aquecer o teu coração.
Bjos
Faço das tuas as minhas palavras.jokinhas
Para ti que sofres tanto lembra-te que a beleza de uma mulher não está nas marcas do seu rosto mas está reflectida na sua alma.Está no cuidado que tu amorosamente têens pelos outros.Para esse coração tão amargurado peço-te que nunca desistas, por mais que lutes...
Um beijo
Nelson Ferreira
:´(
Amiga, apetecia-me dar-te um abraço...
Não há palavras...
Beijinho grande
Também vi essa mini serie de 2 episódios. Deve ter custado muito às actrizes fazer aqueles papeis baseados em factos veridicos, mas nem consigo imaginar o que sofrem aquelas mulheres na realidade...
As autoridades não fazem o suficiente... arrastam tudo e são cumplices nesse crime.
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